Conviccões
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LÉVI-STRAUSS, C. “Raça e História” in Antropologia Estrutural II Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1976, capítulo XVIII, pp 328-366
E a Vaquejada?
A vaquejada é uma tradição cultural
nordestina antiga e consiste em pessoas montadas em cavalos que tentam derrubar
bois em uma área delimitada. Recentemente esse tipo de evento tem ganhado os
holofotes da mídia e da população depois que o Supremo Tribunal Federal (STF),
derrubou uma lei que regulamentava tal prática no estado do Ceará.
Diante disso, o senado resolveu pôr em
discussão tal prática a fim de estudar propostas de sua regulamentação. Nós do
emtelequitoas, achamos o assunto polêmico e relevante como discussão e portanto
tentaremos desconstruir aqui algumas falácias sobre o tema:
A vaquejada é uma cultura
inferior?
Para responder a essa pergunta
primeiramente devemos ter ciência do que venha a ser cultura. A palavra em
questão deriva do latim culturae que significa cultivar, no
entanto, para as ciências humanas o significado desse termo é um pouco mais
abrangente. Para o professor da Unicamp José Luís dos Santos a cultura se
divide em dois significados:
“A primeira concepção de cultura remete
a todos os aspectos de uma realidade social; a segunda refere-se mais
especificamente ao conhecimento, às ideias e crenças de um povo. (SANTOS,
p.23)”
A julgar pelo conceito definido pelo
autor, não podemos descartar a hipótese de que vaquejada é sim cultura, mas
será que ela pode ser classificada como inferior a alguma outra? A resposta é
dada pelo falecido e famoso cientista social Claude Lévi-Strauss que afirma em
seu famoso texto “Raça e História” ser impossível mensurar cientificamente a
superioridade de uma cultura em detrimento de outra. Portanto, mesmo você
gostando ou não, a vaquejada é sim uma cultura tão importante quanto tantas
outras demais.
Mas o nazismo e a escravidão também
foram culturas e foram extintas, por que com a vaquejada tem que ser diferente?
É fato que não podemos mensurar o grau
de superioridade de uma cultura a outra mas isso não significa dizer que seja
impossível medir os impactos negativos que uma cultura pode proporcionar a
sociedade. A vaquejada, assim como o nazismo e a escravidão proporciona um tipo
de prejuízo. Porém, essa tradição, diferentemente das duas outras citadas, não
lesa o ser humano mas sim alguns animais que participam da prática.
Já que a vaquejada é um tipo de cultura
que causa prejuízos, por que não aboli-la?
O mesmo prejuízo que os que questionam
tal evento no palácio do planalto alegam para a proibição da vaquejada são
também encontrados na prática do abate de bovinos em açougues por todo o
Brasil. Portanto, não faz sentido justificar o fim da vaquejada por conta da
crueldade que ela proporciona se todos os dias de tarde ou de noite você espera
por um suculento pedaço de carne rica em proteínas no seu prato. Mesmo sabendo
que muitas empresas e comerciantes de carne bovina no Brasil estão modernizando
os modos de abater seus animais, o número de bois e vacas que ainda sofrem e
são judiados até se transformarem no bife ou no churrasco de fim de semana
ainda é muito superior àqueles que sofrem por causa da vaquejada.
Então devemos continuar permitindo que
esses animais sejam judiados por diversão?
Não, e é por isso que o estado está
trazendo a discussão da regulamentação da vaquejada como esporte e tradição
cultural brasileira. Recentemente o senado pôs em votação popular quatro
projetos referentes a essa ação que podem ser encontrados através dos links
abaixo:
- PEC 50/2016 - inclui na
Constituição permissão para práticas culturais que não submetam animais à
crueldade http://bit.ly/2dI0jiN
- PLS 377/2016 – Reconhece a vaquejada como
manifestação cultural - http://bit.ly/2eadsx3
- PLS 378/2016 – regulamenta a vaquejada -http://bit.ly/2euGz13
- PLC 24/2016 – Reconhece a vaquejada como
manifestação cultural - http://bit.ly/2eL6pws
- PLS 650/2016 – Proíbe a vaquejada e rodeios - http://bit.ly/2ffb6Br
Se você é um emtelequitoa que possui
interesse na temática, leia os projetos com atenção e opine a respeito da sua
aceitação ou não.
Referências:
LÉVI-STRAUSS, C. “Raça e História” in Antropologia Estrutural II Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1976, capítulo XVIII, pp 328-366
SANTOS J.L; O que é cultura / José Luiz dos Santos. São Paulo :
Brasiliense, 2006. - - (Coleção primeiros passos ; 110)
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