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E a Vaquejada?

quarta-feira, outubro 26, 2016 João Paulo 0 Comentários

A vaquejada é uma tradição cultural nordestina antiga e consiste em pessoas montadas em cavalos que tentam derrubar bois em uma área delimitada. Recentemente esse tipo de evento tem ganhado os holofotes da mídia e da população depois que o Supremo Tribunal Federal (STF), derrubou uma lei que regulamentava tal prática no estado do Ceará. 

Diante disso, o senado resolveu pôr em discussão tal prática a fim de estudar propostas de sua regulamentação. Nós do emtelequitoas, achamos o assunto polêmico e relevante como discussão e portanto tentaremos desconstruir aqui algumas falácias sobre o tema:

A vaquejada é uma cultura inferior? 

Para responder a essa pergunta primeiramente devemos ter ciência do que venha a ser cultura. A palavra em questão deriva do latim culturae que significa cultivar, no entanto, para as ciências humanas o significado desse termo é um pouco mais abrangente. Para o professor da Unicamp José Luís dos Santos a cultura se divide em dois significados: 

“A primeira concepção de cultura remete a todos os aspectos de uma realidade social; a segunda refere-se mais especificamente ao conhecimento, às ideias e crenças de um povo. (SANTOS, p.23)”

A julgar pelo conceito definido pelo autor, não podemos descartar a hipótese de que vaquejada é sim cultura, mas será que ela pode ser classificada como inferior a alguma outra? A resposta é dada pelo falecido e famoso cientista social Claude Lévi-Strauss que afirma em seu famoso texto “Raça e História” ser impossível mensurar cientificamente a superioridade de uma cultura em detrimento de outra. Portanto, mesmo você gostando ou não, a vaquejada é sim uma cultura tão importante quanto tantas outras demais.

Mas o nazismo e a escravidão também foram culturas e foram extintas, por que com a vaquejada tem que ser diferente? 

É fato que não podemos mensurar o grau de superioridade de uma cultura a outra mas isso não significa dizer que seja impossível medir os impactos negativos que uma cultura pode proporcionar a sociedade. A vaquejada, assim como o nazismo e a escravidão proporciona um tipo de prejuízo. Porém, essa tradição, diferentemente das duas outras citadas, não lesa o ser humano mas sim alguns animais que participam da prática. 

Já que a vaquejada é um tipo de cultura que causa prejuízos, por que não aboli-la?

O mesmo prejuízo que os que questionam tal evento no palácio do planalto alegam para a proibição da vaquejada são também encontrados na prática do abate de bovinos em açougues por todo o Brasil. Portanto, não faz sentido justificar o fim da vaquejada por conta da crueldade que ela proporciona se todos os dias de tarde ou de noite você espera por um suculento pedaço de carne rica em proteínas no seu prato. Mesmo sabendo que muitas empresas e comerciantes de carne bovina no Brasil estão modernizando os modos de abater seus animais, o número de bois e vacas que ainda sofrem e são judiados até se transformarem no bife ou no churrasco de fim de semana ainda é muito superior àqueles que sofrem por causa da vaquejada. 

Então devemos continuar permitindo que esses animais sejam judiados por diversão?

Não, e é por isso que o estado está trazendo a discussão da regulamentação da vaquejada como esporte e tradição cultural brasileira. Recentemente o senado pôs em votação popular quatro projetos referentes a essa ação que podem ser encontrados através dos links abaixo: 

  • PEC 50/2016 - inclui na Constituição permissão para práticas culturais que não submetam animais à crueldade http://bit.ly/2dI0jiN
Se você é um emtelequitoa que possui interesse na temática, leia os projetos com atenção e opine a respeito da sua aceitação ou não.

Referências: 

LÉVI-STRAUSS, C. “Raça e História” in Antropologia Estrutural II Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1976, capítulo XVIII, pp 328-366

SANTOS J.L; O que é cultura / José Luiz dos Santos. São Paulo : Brasiliense, 2006. - - (Coleção primeiros passos ; 110)



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